A derrota de Javier Milei nas eleições provinciais de Buenos Aires representou um marco decisivo para a política argentina. O resultado fortaleceu o peronismo e revelou a vulnerabilidade da coalizão governista A Liberdade Avanza (LLA). Esse revés ocorre em um momento estratégico, já que o país se prepara para as eleições parlamentares de meio de mandato, programadas para 26 de outubro.
Buenos Aires como palco central
A província de Buenos Aires é o coração político e econômico da Argentina. Com 40% do eleitorado e mais de 30% do PIB nacional, qualquer disputa ali tem peso decisivo. O peronismo, organizado na coalizão Força Pátria, obteve 47% dos votos, contra 33,8% da LLA, com 94% das urnas apuradas. A diferença surpreendeu, já que as pesquisas indicavam um cenário mais equilibrado.
O ambiente na sede do Força Pátria foi festivo. Militantes receberam o governador Axel Kicillof com aplausos e gritos de incentivo. O discurso de vitória enfatizou a necessidade de proteger áreas como saúde, educação e ciência, criticando os cortes do governo Milei.
Reação de Milei ao revés eleitoral
Após o anúncio, Milei reconheceu publicamente a derrota. Em La Plata, declarou que sua gestão não mudará de direção e prometeu acelerar as reformas. O tom foi mais contido do que o habitual, contrastando com sua postura provocativa em outros momentos. Ainda assim, insistiu em manter firme seu programa econômico.
Essa reação, embora firme, evidencia dificuldades práticas. A derrota de Javier Milei fragiliza sua autoridade política e amplia os desafios para consolidar apoio legislativo. A fusão com o PRO, partido de Mauricio Macri, não foi suficiente para impedir o avanço peronista, levantando dúvidas sobre a eficácia da coalizão.
Corrupção e turbulência política
O resultado também refletiu escândalos que atingiram o governo. A irmã e principal aliada de Milei, Karina, foi citada em um caso de suspeita de corrupção envolvendo a agência pública de apoio a pessoas com deficiência. A polêmica ganhou espaço na mídia e enfraqueceu a imagem de integridade do governo.
Além disso, o Congresso argentino derrubou um veto presidencial poucos dias antes da eleição. A decisão expôs fragilidade institucional e mostrou que Milei não possui controle pleno sobre o Legislativo, mesmo com a fusão partidária.
Economia em foco
No campo econômico, o governo comemorou a queda da inflação anual de 87% para 17,3%. Porém, a vitória parcial não foi suficiente para convencer a população. A desvalorização do peso argentino obrigou o Tesouro a vender dólares, medida que revelou incerteza sobre a estabilidade da moeda.
A política de austeridade, centrada em cortes drásticos de gastos públicos, provocou insatisfação. Serviços essenciais, como saúde e educação, sofreram reduções, o que impactou diretamente famílias de baixa renda. Essa percepção negativa contribuiu para o fortalecimento da oposição.
Peronismo fortalecido e unido
O peronismo, historicamente marcado por divisões internas, conseguiu superar fissuras e apresentar unidade. Essa coesão foi crucial para ampliar a derrota de Javier Milei e transformar Buenos Aires em um bastião opositor. A presença simbólica de Cristina Kirchner, que apareceu em público após o resultado, reforçou a narrativa de resistência e mobilizou militantes.
O governador Axel Kicillof emergiu como figura de destaque. Sua capacidade de articular a vitória em uma província tão relevante projeta sua imagem como possível liderança nacional. A oposição ganhou não apenas uma eleição, mas também impulso político para outubro.
Implicações nacionais
A derrota em Buenos Aires não foi apenas uma disputa local. O resultado carrega implicações diretas para o futuro da governabilidade de Milei. Se a tendência se repetir nas eleições de outubro, o Congresso poderá se tornar ainda mais hostil ao governo. Isso limitaria de forma significativa a capacidade de implementar reformas estruturais.
Ao mesmo tempo, o fortalecimento do peronismo cria expectativas de mudanças no equilíbrio de poder. Uma oposição mais forte pode impulsionar medidas de proteção social e barrar projetos considerados impopulares. O embate entre austeridade e políticas distributivas se intensifica.
Conclusão
A derrota de Javier Milei em Buenos Aires representou muito mais que um revés eleitoral. Além disso, foi um recado político claro, que expôs fragilidades de sua gestão e ao mesmo tempo fortaleceu o peronismo. Por outro lado, a combinação de escândalos, cortes sociais e instabilidade econômica ampliou a rejeição ao governo. Dessa forma, o resultado coloca Milei diante de seu maior desafio desde o início do mandato. Ele precisa provar que ainda pode manter apoio popular e, assim, avançar com seu programa. Por fim, as eleições de outubro definirão se o presidente conseguirá sustentar sua agenda liberal ou, caso contrário, se enfrentará um Congresso dominado pela oposição.
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