Planos de redução de custos da ONU geram críticas internas
A redução de custos da ONU está no centro de um intenso debate. O plano orçamentário para 2026 prevê cortes profundos, mas distribuídos de maneira desigual entre diferentes categorias de funcionários. Enquanto cargos de menor escalão sofrem os maiores impactos, os altos postos permanecem quase intactos. Essa escolha alimenta críticas sobre desigualdade, eficiência administrativa e prioridades internas da instituição.
O plano orçamentário e seus objetivos
O secretário-geral António Guterres estabeleceu como meta cortar 15% do orçamento regular. O argumento oficial é melhorar a eficiência em um momento de forte restrição financeira. A ONU enfrenta dificuldades de caixa significativas ao completar 80 anos, pressionada por atrasos nos pagamentos de seus principais financiadores.
Embora a meta seja a contenção de custos, sindicatos e especialistas destacam que os cortes não atingem de forma proporcional os diferentes níveis da hierarquia. Isso pode comprometer tanto a credibilidade interna quanto a capacidade de execução de missões humanitárias e diplomáticas.
Desigualdade nos cortes de pessoal
O documento preliminar do orçamento mostra que apenas 3% dos cargos de subsecretário-geral serão extintos. Já nas categorias mais baixas, a redução chega a 28%. Esse contraste gera questionamentos sobre prioridades organizacionais e a real disposição da instituição em promover eficiência.
Ian Richards, presidente do Sindicato dos Funcionários de Genebra, afirmou que as medidas tornarão a ONU mais burocrática e pesada, indo contra os objetivos declarados. A percepção de injustiça pode aumentar divisões internas e reduzir a confiança dos funcionários na liderança.
Consequências para agências humanitárias
As agências humanitárias da ONU, que possuem orçamentos independentes, também devem enfrentar cortes severos. Estima-se que mais de 25% dos empregos nessas entidades seja eliminado. Esse cenário ameaça a continuidade de programas em regiões vulneráveis, especialmente em países em crise humanitária.
O porta-voz Stephane Dujarric ressaltou que a maior parte das reduções ocorre em áreas com grandes contingentes de funcionários. No entanto, ele admitiu que novas medidas poderão ser discutidas, inclusive em cargos de alto escalão, em futuras revisões.
Pressão de grandes financiadores
Os Estados Unidos e a China respondem juntos por 40% do orçamento regular. Mesmo assim, ambos estão em atraso com suas contribuições. A postura dos dois países amplia as incertezas sobre a viabilidade financeira da organização.
Nos últimos meses, o ex-presidente Donald Trump criticou duramente a ONU, reforçando o ceticismo em relação às instituições multilaterais. Ainda assim, ele declarou apoio direto a Guterres em encontro privado, o que revela uma relação ambígua entre Washington e a entidade.
Histórico de expansão nos cargos graduados
O crescimento contínuo dos cargos de nível superior ao longo das últimas décadas já vinha sendo alvo de críticas. Um memorando interno recente destacou a necessidade de frear essa expansão. A expectativa era de uma reestruturação mais profunda, mas a atual proposta de cortes concentrou-se principalmente nos escalões inferiores, contrariando parte das recomendações internas.
Impactos futuros e riscos institucionais
A redução de custos da ONU pode ter impactos amplos, tanto na gestão interna quanto na atuação externa. Caso os cortes continuem desequilibrados, a percepção de injustiça pode enfraquecer a moral da equipe e comprometer operações humanitárias.
Além disso, se os maiores contribuintes não regularizarem seus repasses, a instituição enfrentará ainda mais restrições financeiras. Nesse contexto, a ONU corre o risco de perder capacidade de resposta em momentos de crise internacional, reduzindo sua relevância política.
Conclusão
Os planos de redução de custos da ONU revelam o dilema entre eficiência e justiça organizacional. Embora a contenção de despesas seja necessária, a distribuição desigual dos cortes gera críticas intensas e expõe fragilidades internas. Para garantir sustentabilidade, será essencial equilibrar melhor os ajustes, fortalecer a confiança entre funcionários e obter maior compromisso dos países membros.